segunda-feira, 18 de abril de 2011

Devagar ou a vida nova que escolhi.


Para Goiás

Devagar como as águas do riacho
a vida vai seguindo
até a próxima curva
a seca de todos os anos
e a ressurreição.

Escuto os sons
um por um
no escuro, à noite
sob o luar sorriso
um por um
devagar.

É verdade
tudo aqui demora mais
onde estão os lugares
os óculos não chegaram no prazo
o médico não veio hoje
os amigos
ainda estão escondidos.

Devagar espero
a vida adiante
a festa, o festival
ando no mato
banho no rio
sob o sol.

Caminho à noite pela cidade
de história e escravos
a tradição e a família
os outros como eu
fugindo e procurando.

A vida não acaba aqui
ela começa outra vez
até onde a gente não sabe
antes de fazer a curva
o rio pode secar.

É pequeno o labirinto
das ruas de pedra
as grandes árvores dos quintais
cantam ao entardecer.

Devagar
e só às vezes
as palavras vão
brotando dentro em mim
como da primeira vez
e a vida vai
e o tempo passa
em toda parte
parece igual
mas aqui parece
um pouco mais
devagar.

Cidade de Goiás, 17 de abril de 2011.



7 comentários:

André Lopes disse...

Eita Gera! Rapaz, o que você sente eu sinto o avesso... ô vida corrido, sô... se não fosse minhas neuroses fúnebres eu nem veria a vida passando... Abraço, Dré

Geraldo Witeze Junior disse...

Pois é, Dré, são os caminhos que a gente vai tomando. Eu não pretendo voltar pro ritmo alucinado da cidade nunca mais...

Abração!

Lívia disse...

O tempo qualitativo do povo Nuer era do tipo: o dia dura enquanto estivermos no pasto cuidando do gado. Quando sairmos, é noite. Uma tradução moderna: a aula do professor acaba quando ele termina de falar, e não quando "dá o horário". Gera, vc me fez pensar: o tempo devagar existe. Naturalizamos a velocidade alta, sendo q "correria" não é natural, mas sim um fato social, a la Durkheim: uma forma de pensar, agir e sentir exterior ao sujeito e coercitiva. Minha bebê Letícia q nasceu ta me ajudando a sentir a vida de outra maneira. Jesus tem razão (como sempre) ao dizer pra gente prestar atenção nas crianças. Sem falar nada, elas dizem muito. Saudades Gera, bjo

Jeff disse...

Gostei da forma geral, o tom geral... só o final me pareceu obvio... mas talvez seja isso mesmo, obvio mesmo... mas gosto do ritmo que vc da pras palavras e um tom meio blasé... abracao, jeff

Geraldo Witeze Junior disse...

Pois então, Jeff, é óbvio mesmo, mas não vejo como podia ser diferente... Abração!

Anônimo disse...

Tive um sentimento parecido tempos atrás. Só que no meu caso, o espaço em volta me trazia um estranho saudosismo de um tempo (que não existe) em que o ritmo da vida fazia sentido.

Luciana disse...

Poisé Geraldo... essa é a nossa vidinha do lado de cá! Uns reclamam, outros nem tanto, e alguns simplesmente se encantam! Viva Goiás!!!