sexta-feira, 29 de novembro de 2013
quarta-feira, 31 de julho de 2013
Segredo
Descobri um segredo antigo
num livrinho velho e gasto,
li e reli muitas vezes
como uma luz acesa no escuro.
O medo é aqui dentro
a solidão da vida
a angústia de não compartilhar
é alguém do nosso lado
e a gente não conversa.
Como é difícil abrir o coração!
Esses olhos que me olham
me olharão quando eu falar de mim?
Precisamos uns dos outros
de amizade verdadeira
de ouvidos abertos
e mãos que nos toquem
e braços que envolvam.
Coragem, nos dizem alguns, coragem!
Vamos todos à luta, está bem! Vamos!
No entanto
o que afasta mesmo o medo
é o amor.
Goiás, 31 de julho de 2013.
segunda-feira, 15 de julho de 2013
As mãozinhas pequenas
Vendo vídeos antigos
pessoas roupas corpos
rolavam soltos os anos
80.
Super 8 digital
não me interessa muita
gente
procuro meu pai e minha
mãe.
As mulheres com roupas
de cintura alta
os homens de bigode e
óculos ray-ban
não sei os nomes, não
quero saber.
Quero meu pai filmando
amador
quero minha mãe
entretendo os convidados
sorrindo para câmera.
Quero sentir as ondas
de Itapuã
batendo no corpo sob o
sol
as pernas ainda fracas
de quem aprende a
caminhar.
Quero minhã mãe de
maiô
me segurando pelos
braços
contra o mar
inclemente.
Quero meu pai me
levando na canguta
e as minhas irmãs, um
de cada vez,
e rodando pelos ares
seguro por braço e perna.
Eu era então um avião
que ia longe
era um desbravador dos
mares infantil
uma criança que rompeu
as trompas ligadas.
Não há planejamento
estratégico da vida
ela vai, vem e muda o
rumo
como as ondinhas na
beira da praia.
Eu era uma criança
e ainda sou
procurando, as
mãozinhas pequenas,
onde segurar pra não
cair.
Goiás, 15 de julho de
2013.
domingo, 30 de junho de 2013
Isso é tudo
Minha mãe não viu
quando virei
historiador
nem a viagem pela
América
de mochila nas costas
em caronas sem rumo.
Foi ali que eu virei
gente
ela não viu.
Minha mãe teria medo
e se preocuparia
e diria que não
e sofreria as angústias
de mãe
nessas horas quando o
filho
sai pro mundo sem rumo
pra fazer o que se
deve.
Meu pai com orgulho
chamava de périplo.
Não me consta que
tenha tido medo.
Trouxe-lhe uma máscara
inca
pesou na mochila-casa
desde a Bolívia.
Minha mãe não viu
quando me tornei
professor
quando me tornei mestre
e escrevi na tese
uma linhazinha para
ela.
Não, ela não leu.
Minha mãe não me viu
virar motociclista
não conheceu minha
mulher
largar tudo e vir pra
Goiás
tomar banho de rio
o casamento
planejado em uma
semana.
Não viu.
Meu pai, ele viu.
Veio a Goiás visitar
passeamos juntos
comemos a comida boa
feita em casa
vegetariana.
Não sentiu falta da
carne aqui.
Mas quis chuveiro
elétrico
e me fez comprar.
Deu de presente uma
chaleira
nós nunca usamos.
Salvador 2009,
de carona com Cássio
depois da Chapada
chegamos em Pituaçu
na casa-castelo
só uma noite
o velho aparelho de som,
ele disse, ficaria
comigo.
Foi bonito, Cássio
contou,
deve lembrar melhor da
imagem
eu lembro das palavras.
Era um querer sem
vontade
a herança...
Em 2012, Salvador –
Goiás
mandou-me o som
como se dissesse
estou indo, estou indo,
aí está, cuide bem,
divirta-se
que eu já vou.
E eu, não usei direito
como não querendo
pensando no sentido
no adeus.
E foi assim mesmo
em cada passo, cada
coisa
com o cuidado
meticuloso
de etiquetar as caixas
disse adeus pra cada um
e apagou-se a luz
de uma só vez.
De manhã a ligação
falhou
mas ouvi bem a sua voz
e não havia nada
errado.
Fizemos todos o melhor
possível
e não há culpa nem
rancor
é só a lágrima que
escorre
em cada foto
em palavras de
bilhetinhos
na ligação que não
chega mais
no “sim” ao
telefone
no orgulho expressado
no respeito à
diferença
na serenidade do amor.
Meu pai não me viu
comprar um fusca.
Será que ele diria
para comprar um mais moderno?
Sentiria orgulho?
Pensaria bobagens?
Meu pai não vai ver
meus filhos
não vai ver quando eu
for doutor
não vai ver a
construção da casa
o futuro que eu nem
sei.
Não posso mais pedir
seu conselhos, pai,
ouvir a sua voz calma
de experiência
mesmo quando dizia não.
Você incomodava às
vezes, pai,
e eu também te
irritava, eu sei...
Há tanto de incompleto
na vida
e é só o tempo
passando.
Meu pai não viu a
explosão popular
essa mesma de agora sem
partido
de qualquer um na rua,
saberia dela pelo
Facebook
emitiria opiniões,
talvez,
não posso brigar com
ele
defendendo os
arruaceiros
que ele não viu na TV.
Foi bom isso
para todos é claro.
Aqui em mim
despertou-me do torpor
como se me fizesse
ouvir
um conselho simples
deixado num bilhetinho
que guardo com carinho:
“Seja feliz ao teu
modo
e viva a vida da melhor
forma possível”
E isso é tudo
o que tenho agora.
Goiás, 30 de junho de
2013.
terça-feira, 18 de junho de 2013
É a vida, amigo
Eu sou a faca à noite
fogos de artifício sem festa
rasgo furo explodo
em multidão somos assim
fogo na rua
lixeirinhas quebradas
oh, vândalos
é melhor, muito melhor,
que não fazer nada.
Não é metafísica
não é facebook
não é realpolitik
é gente na rua
quer ir vir onde quer
quer tarifa zero, meu amigo,
tarifa zero.
Não entendeu?
Difícil...
Utopia, impossível, irreal.
Jovens sonhadores,
oh, bonito!
Vamos lembrar, meu amigo,
jornada de 44 horas
descanso no domingo
salário mínimo
licença saúde, maternidade
o pai morreu,
uns dias de folga pelo menos,
pra aplacar a dor.
É a vida, amigo,
a vida impossível
uns tempos atrás.
É tarifa zero sim!
É a copa pra… (ponha o palavrão que quiser aqui)!
Educação, saúde,
é isso tudo.
Não é só o aumento
mas é o aumento sim!
E muito mais!
Muito mais!
É a vida
pra ser vivida
sofrimento já tem
não precisa mais.
Sobrevivência?
Cacete, sobreviver?
Não!
É a vida
pra ser vivida
é muito mais!
Goiás, 18 de junho de 2013.
fogos de artifício sem festa
rasgo furo explodo
em multidão somos assim
fogo na rua
lixeirinhas quebradas
oh, vândalos
é melhor, muito melhor,
que não fazer nada.
Não é metafísica
não é facebook
não é realpolitik
é gente na rua
quer ir vir onde quer
quer tarifa zero, meu amigo,
tarifa zero.
Não entendeu?
Difícil...
Utopia, impossível, irreal.
Jovens sonhadores,
oh, bonito!
Vamos lembrar, meu amigo,
jornada de 44 horas
descanso no domingo
salário mínimo
licença saúde, maternidade
o pai morreu,
uns dias de folga pelo menos,
pra aplacar a dor.
É a vida, amigo,
a vida impossível
uns tempos atrás.
É tarifa zero sim!
É a copa pra… (ponha o palavrão que quiser aqui)!
Educação, saúde,
é isso tudo.
Não é só o aumento
mas é o aumento sim!
E muito mais!
Muito mais!
É a vida
pra ser vivida
sofrimento já tem
não precisa mais.
Sobrevivência?
Cacete, sobreviver?
Não!
É a vida
pra ser vivida
é muito mais!
Goiás, 18 de junho de 2013.
segunda-feira, 10 de junho de 2013
A vida quando acaba
Um pote de geleia de
cacau
ele me deu um mês
atrás
vou comendo com
biscoitos
vidro cheio na mão
– na infância ele
brigava
se eu ficasse assim –
a geleia vai acabando
e me dói muito
não é o doce
a vida quando acaba
deixa um gosto amargo
que demora pra sair.
Goiás, 10 de junho de
2013
sexta-feira, 15 de março de 2013
Cerrado ainda tem
Revivo um pouco de mim
a cada vez me lembro,
não vejo o antes,
sou eu, ali, acenando
pequeno de cabelos
loiros
em Itapuã antes da
fama,
o joelho esfolado
na perseguição da
irmã
bicicleta, Rua José de
Oliveira Franco 1754,
o campinho e o brejo...
terminal de ônibus
na cidade do bom
transporte.
E mais ao sul,
em cima do telhado
conversas de crianças
crescendo
tentando ver estrelas
cadentes,
e São Paulo capital,
correndo pela cidade
maledetti paulisti
no ôco do mundo,
e então Barão sou eu,
bicicleta outra vez
conversar no banco
pisar na terra
até ameaçar o
asfalto,
os carros muito
grandes,
as caronas ralinhas,
bora de vez,
cerrado ainda tem,
serra, água, mato,
o bico do tucano
todo dia no céu.
Cidade de Goiás, 15 de
março de 2013.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
Umas histórias
Quanto estava na
estrada
andando pela América
descobrindo quem era
– ah, eu me lembro
bem
da visão delirante da
Patagônia
a chegada em Bariloche
o Nahuel Huapi
impossível azul –
escrevi poemas ruins.
Escrevi poemas ruins
porque não sabia o que
dizer.
Um hippie nos disse
– esqueci de contar
viajava com um amigo
hoje casou, dois
filhos,
vive em Madison,
Wisconsin,
conheceu a mulher no
Chile,
depois de Bariloche,
de dormir na
cordilheira e
um velhinho dizer
pra não fumarmos
maconha
na caçamba fechada da
sua caminhonete
com banquinhos de
madeira adaptados,
vocês não vão
entender, eu sei,
mas a gente nem fumava
era só barba, cabelo,
sujeira –
mas o cara disse
que não tínhamos
roupas
para aguentar o frio do
inverno
não lembro se foi em
Buenos Aires
ou depois de Algarrobo,
a capital nacional do
alho
onde o Che Guevara
arrumou sua
motocicleta,
ou da carona com
Marisol
que não deu certo
e não chegamos a
Choele Choel.
Eu casei, Marisol
casou,
uma amiga de Las Grutas
agora vive em São
Paulo.
Onde está o professor
sulafricano
conversamos lá em
Machu Picchu
eu subia sozinho
as picadas para Huayna
Picchu
e não sei como
falamos sobre o
Apartheid,
o Brasil é a África
disfarçada
sem Desmond Tutu.
Onde estão Sandra,
Etienne, Lucho?
Está bem, a Sandra
está por aí,
nos falamos há alguns
anos
e vi umas fotos suas no
Facebook.
As amigas suecas
o futebol na Bolívia
– ah, trabalhei
porque o dinheiro
acabou.
Karen, a feminista,
nos levou para conhecer
Lima
quanto abrigos
recebemos
quantos nomes
esquecidos
quanta coisa
persistente.
Fui ver a América
e encontrei.
Aí é assim
quando a gente
não sabe o que dizer
conta umas histórias
e vive a vida
o melhor que pode.
Goiás, 15 de fevereiro
de 2013.
Caminhando
É como quando você se lembra
e vê a vida indo assim
passando como sempre
um filme na madrugada
solidão na quinta à noite
serei Cristo crucificado
ou Jesus com as crianças.
Meu pai tentava me ensinar a jogar bola
eu criança no parque Barigui
queria andar de rolemã
tinha medo do skate
achava patins coisa de playboy.
Sempre passo a mão nas folhas
quando vou banhar nos rios
lixeira, aveludadas, duras
aguentam todas o sol.
Às vezes de manhã
faço uma oração,
às vezes choro sozinho
e ninguém sabe,
o futebol me cansa
gosto dos livros
mas me cansam,
o pior é pensar num ateu
quando quer agradecer pela vida
e não tem com quem conversar.
Quem pode convencer um comunista
ou como mudar a mente de um liberal
ou será meu-deus-do-céu
que o mundo vai ser diferente...
Esperamos
enquanto isso
vamos caminhando.
Goiás, 15 de fevereiro de 2013.
e vê a vida indo assim
passando como sempre
um filme na madrugada
solidão na quinta à noite
serei Cristo crucificado
ou Jesus com as crianças.
Meu pai tentava me ensinar a jogar bola
eu criança no parque Barigui
queria andar de rolemã
tinha medo do skate
achava patins coisa de playboy.
Sempre passo a mão nas folhas
quando vou banhar nos rios
lixeira, aveludadas, duras
aguentam todas o sol.
Às vezes de manhã
faço uma oração,
às vezes choro sozinho
e ninguém sabe,
o futebol me cansa
gosto dos livros
mas me cansam,
o pior é pensar num ateu
quando quer agradecer pela vida
e não tem com quem conversar.
Quem pode convencer um comunista
ou como mudar a mente de um liberal
ou será meu-deus-do-céu
que o mundo vai ser diferente...
Esperamos
enquanto isso
vamos caminhando.
Goiás, 15 de fevereiro de 2013.
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