sábado, 24 de maio de 2008

Quarta-feira

Ao que parece foi numa quarta-feira
que feriram a boa vontade dos homens
e desumanizaram os pensamentos
para que chovesse metal
e a terra cultivada
produzisse lágrimas
e ausências
mas só depois disso
ter sido realizado em plenitude
pereceu nos homens finalmente
a capacidade de enxergar o que é belo.

09-11-2007

Poema para un niño

Hace años pocos, verdad,
yo dije que de mis manos
iban a salir unas palabras
para un niño chiquitito
de grandes ojos azules.
Por los caminos de la vida
se me olvidó la promesa,
pero otros caminos
me llevaron al recuerdo
y palabra es palabra,
entonces...

Niño, ya no más chiquitito,
mira los altos cerros
atrás de ellos hay gigantes.
¿Puedes verlos?

Mira las arenas del desierto
cuando vienen los cóndores
con su majestad altiva
y cree que fueron enviados
por reyes distantes
con un mensaje bueno.

Hay encantos en el mundo,
¡nunca los abandones!

Tome un espejo en las manos
ve tus ojos azules
son el espejo del cielo.
Si me engaña la memoria
y son verdes tus ojos
es porque reflejan el mar.

No te olvides, niño,
de hacer el bien
porque en los cuentos de hadas
los malos son derrotados
por los buenos
y el mundo sigue feliz.

No te olvides, niño,
que el mundo es feo
porque la gente se olvidó
de las hadas
que le decían a todos
que hicieran el bien
y así la gente
empezó a ser mala.

Entonces, niño,
no sigas ese camino.

Solamente no te olvides.

Campinas, 20-03-2008

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Como se faz uma comoção nacional

Deu no jornal:
mataram um homem
em Londres.
Suspeita de terrorismo.
Tudo bem, quando querem
matar alguém
é só acusar de terrorismo
que ninguém reclama.
Então mataram o homem,
o suspeito,
e ninguém se incomodou.
Logo em seguida
as notícias sobre o futebol
para alegrar o povo brasileiro!
Logo depois, desse jeito:
“E agora o futebol!”

Ninguém se incomodou
que mataram
um SUSPEITO.

Mais uns dias,
o tempo fez como sempre faz.

O suspeito,
ninguém se importava com ele,
se tinha feito algo,
se era de Catmandu
ou do Ceilão,
o dito homem
era brasileiro.

Oh, que injustiça cometida!
Como podem matar assim
um homem indefeso,
simples, trabalhador!

Não sei quantos tiros,
muita truculência,
paranóia, obsessão,
desespero anti-terrorista.

Mas até onde vai
a estupidez humana...

Ninguém questiona
a paranóia.
Ninguém pensa
Que parva obsessão.

Fosse um homem
nascido e criado
no Paquistão,
homem de bem,
trabalhador,
dedicado à família.

Comoção?

O Paquistão é um seleiro
de terroristas perigosos.

Já o Brasil,
terra do homem cordial.

Que terra linda!

Ninguém
de uma terra assim,
cheia de samba e futebol,
da arte de Pelé e Garrincha,
seria terrorista.

Se homem fosse mexicano
deixaríamos que a comoção
fosse inventada
no México.

Não tem problema
matarem um suspeito
afinal nenhum de nós
sabe o que é isso.

O que importa
a todo custo
é defender
a nossa liberdade.

Liberdade de comprar.

Campinas, 11 de abril de 2008.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Bolhas de sabão

A vida sempre continua,
mesmo que não seja a sua.
Pelo menos a dos outros continua
até chegarem os cavalos
de cores impossíveis
semeando o fim.

É humano ter raiva,

todos entendem.

Mais ainda quando é justificada.

E se a raiva não tem razão?

Alguém faz exatamente

o que disse que faria,

outros nunca sabem

exatamente o que fazer,

e outros ainda se esquecem

que a vida sempre continua

e não fazem nada.

Se “há bastante metafísica

em não pensar em nada”,

em não fazer nada, que há?

Metafísica...

Aos diabos!

Vamos fugir?

Tudo bem, pra onde?

Passárgada talvez,

mas a monarquia deve ter caído.

Será que as mulheres estão velhas mesmo?

Se estiverem bonitas, e daí...

Nada!

Mulheres bonitas, feias, mulheres!

Não é isso.

Nem homens, nem nada.

Me-ta-fí-si-ca!

Recebi uma resposta

em língua desconhecida.

Em resumo, não entendi.

Pode haver outra opção

por mim ignorada.

Podia visitar um leilão de carros,

ou andar até (.............................),

sem correr.

Alguns cachorros uivam ao som da harmônica.

O globo roda na ponta do meu nariz,

meu dedo aponta para a Tanzânia.

Transformei-me num bicho

das fossas abissais,

sem luz própria.

Sabe que a História morreu?

Fofocas acadêmicas.

Há há há!

Nos últimos dias choveu,

alguém estava triste,

devem ter feito poemas infelizes,

sobre a chuva, uma janela.

Chegou o sol, continuaram

fazendo poemas infelizes,

sem janela nem chuva.

Não vi o obituário dessa semana.

Não pensei em epitáfio nenhum.

Não gosto de vinagre na alface.

Sempre achei que alface fosse masculino.

Encontrei uma pedra no Uruguai,

carreguei comigo a pedra,

ela não serviu pra nada.

Ainda está comigo.

Ontem abracei um amigo.

Hoje fez sol.

(Censura).

Lembrei dos Menonitas da Coréia.

Imaginei a vida parando,

de todo mundo,

a minha não.

Chegou o fim para todos,

fiquei sozinho na eternidade.

Parei, pensei.

“Hum!”

Olhei para Deus, não resisti.

Perguntei:

“Qual o sentido da existência dos mosquitos?”

A vida sempre continua,

com-sem rima,

até que vire poesia

ou bolhas de sabão.

(Nunca conheci Menonitas da Coréia).

(26.07.2005)

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Eu queria ser Bertold Brecht

Eu queria ser Bertold Brecht
escrever poemas feios
e todo mundo achar bonito.

Mas não adianta muito
mesmo Bert Brecht
não conseguiu mudar nada.

17.08.2007

Até onde vai o tempo

Até onde vai o tempo,
quando terminam as horas,
onde vai dar esta estrada?
Se conto os passos de minha caminhada
como posso acertar o caminho?
Se esse relógio é incessante
como pode haver um momento
em que ele pára?

Antes de tudo
reinava o caos.

Numa grande escuridão
brilha uma pequena luz,
eternamente.

Essa passagem
faz parte das coisas essenciais.

Mas quem pode dizer
que um uivo desesperado
de um cão perdido
não faz parte
das coisas essenciais?

Aliás, para um cão,
como passa o tempo?

É um mistério indefinido
como uma guerra
que traga paz,
como um barco navegando
rumo ao horizonte,
como um aceno de despedida.

Parece que não se deve olhar atrás
tentando buscar respostas
como se o rio que move o moinho
corresse no sentido inverso
e os peixes da Piracema
não precisassem se esforçar.

É bonito um adeus na rodoviária
prolongado na memória
enquanto não termina o percurso.
São suaves as lágrimas
quando se espera que o adeus
se desfaça num breve retorno.

E talvez devêssemos nos acostumar
a acenar, virar as costas
e não olhar para trás.

Mas não viraremos
estátuas de sal.

Alto, bem alto,
até onde se possa olhar.

Nem estrelas fixas
nem respostas fáceis.

Numa respiração profunda,
no barulho das ondas do mar,
numa noite bem dormida,
na pergunta sem resposta,
até quando o tempo passa?

14-01-2008

terça-feira, 6 de maio de 2008

Onde estão as palavras que me escapam

Onde estão as palavras que me escapam
Onde estão os versos verdadeiros
Contando baixinho o sentido da vida
Onde vou para conhecer a mim mesmo
O amor insensato à humanidade
A corrida para ganhar o que se perde
O trabalho inseguro que é cansaço
Onde está o gosto bom da infância
As cores coloridas do arco-íris
A luz que ilumina um dia de verão
Onde estão as palavras que me escapam...

05-04-2008