sexta-feira, 15 de maio de 2009

Onde está Deus

Perguntei com raiva
onde estava Deus no mundo
porque não consigo vê-lo na tragédia,
na tempestade, na morte,
e de repente lembrei
da resposta de Tolstoi
Onde existe amor
Deus aí está.
Pensei comigo
nas pequenas demonstrações de amor
está Deus
e me pareceu tão pouco
e ao mesmo tempo
tão grande,
forte e significativo
que não pude rejeitar.

Campinas, 9 de maio de 2009

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Delírio noturno

O sono sorve minhas palavras
como se Deus dissesse
no silêncio, soprando suave,
dorme, criança, dorme
tu nada compreendes
e essa busca
por palavras
por respostas
não tem mesmo fim.
Então dorme
porque ficar desperto
na solidão da escura noite
cansa corpo e alma,
mas às vezes vem um sopro
que afaga o espírito.

28.08.2007

Injustiça

Às vezes, como fantasmas,
eu vejo imagens
passando pelo meu corpo.
Isto não está certo:
são tantas esperanças
e somente uma certeza.

15.08.2007

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Ausência

para minha mãe


Eu já senti a dor da morte
passar pelo corpo,
explodir no coração,
na culpa, na ausência.

Quanta tristeza e lágrimas
sem volta nem explicação.

Uma imagem desliza
por minha mente
numa tarde morna
e me sorri suave.

É sempre o silêncio
a distância
cada vez maior
de uma vida que se dilui
em imagens, vestidos e fotografias,
roupas e cabelos esquisitos
mas que dizem tanto
porque o tempo
a tudo silencia
e não nos deixa voltar.

15.08.2007

Elegia do sono

Febril, débil, solitário,
(Faz um silêncio crepuscular
que se perde na noite,
escura, claro)
espera um encontro sedutor,
cala-se, espera,
tranqüilo, cheio de certeza.
Revolve os cantos da memória,
vasculha o tempo
como se varresse a grama do quintal.
Está sentado, ou deitado, tanto faz,
enquanto vê um mover
que é cataclísmico e inseguro,
um farfalhar de vozes
vazias e isoladas,
alheias ao tempo,
amarelas, farelentas,
disformes.
No vagar arrastado da mente
os pensamentos passam devagar.
Ao mesmo tempo
os passos da calçada
pisam rápido e cinza
seguros, intranqüilos
e sem direção.
No respirar profundo
sente a vida inteira
com cores de arco-íris,
e o resfolegar sôfrego da multidão
vê uma fuligem tomar conta do mundo.
Olhos fechados de propósito
compreendem tudo,
sem esforço, azuis,
e os olhares confusos,
presos a objetos, objetivos,
raciocinam sem parar
num ir e vir
que é na verdade
um eterno retorno
ao nada.
Então esquece, sereno,
tudo que não vale a pena
e adormece pela última vez.

09.08.2007