terça-feira, 10 de novembro de 2015

Quanto Vale?



Quando criança aprendi
na escola dominical:
“o verbo se fez carne
e habitou entre nós”.

Mais tarde entendi
o verbo Jesus
era também palavra
era também razão.

Hoje quase preciso me desculpar
por saber do logos grego
ofende quem não sabe.

Perdão, perdão a todos,
eu gosto de aprender!

Poesia, um amigo ensinou,
é feita de imagens
e nunca me esqueci.

A metáfora salta do papel
grita detrás da tela
urgente, urgente!

Moisés abriu o mar,
passou na novela outro dia,
liberdade ao povo de Deus!

O mar de lama
era imagem
virou verdade.

A culpa só pode ser dos céus
os milagres bíblicos
não se reeditam.

Esqueceram de passar
na tampa da represa
o sangue dos cordeiros.

O Bento foi soterrado,
que tragédia – natural!

A bênção dos tempos modernos
é só para aqueles, bem devotos,
que buscam em primeiro lugar
o lucro, o lucro.

It’s only business, my friend!
Dizem os acionistas
correndo atrás do tempo
perdido.

Já não há mais tempo
para cada coisa sob o céu.

Não há mais céu
nessa nova religião.

A culpa é dos profetas,
só pode,
não tocaram a sirene.

A culpa é do destino,
tem de ser,
de quem mais?

O mar de lama
invade a vida
de súbito.

Moisés já é passado
o novo deus
não encarnará.

Não há razão
para explicar,
as palavras
vão sumindo.

Cada um dos mortos
dói em infinitos corações.

Bem que Jesus mesmo se cansou
“Até quando terei que suportá-los?”

Até quando nos suportaremos?

Quanto Vale a vida humana?
Quanto Vale um rio?
Quanto Vale um peixe morto?
Quanto Vale a água?
Quanto Vale a vida?
Vale?

O verbo habitou entre nós
mas não vimos a graça e a verdade.