domingo, 27 de maio de 2018

O melhor de mim


O melhor de mim
são palavras singelas
expressadas com amor
que quase ninguém lê.

Uma verdade inescapável,
profunda, simplezinha,
o amor, sem parecer,
é sempre bastante.

Continuo mandando
palavrinhas para o mundo
esperando talvez
alcançarem seu destino.

Quando chega, enfim,
o esperado encontro
sou cheio de alegria
como criança, e choro.

Temos todos
afetos represados
esperando a chance
de voar.

Anápolis, 14 de maio de 2018.

Reencontros ou poema de um professor satisfeito


Para Beatriz e Gabriel

Era uma conversa comum
desses nossos temas cotidianos
crise financeira, greve na universidade,
esquerda, direita, ricos, pobres,
tudo de suma importância
como a vida, aliás.

Eu falava e escutava
alegre, apesar de tudo,
basicamente impressionado
porque eles, meus antigos alunos,
me falavam com afeto
e muita competência,
olhando nos olhos
à mesma altura.

Anápolis, 18 de maio de 2018.

Lagriminhas


Os poemas que escrevi
para meu pai e minha mãe,
ainda choro quando leio.

E fico pensando assim:
meu Deus, quando é que passa
essa solidão dura e inclemente?

Muitos anos atrás
escrevia poemas em perguntas
e ainda me faltam as respostas.

Um dia a vida finda
e tudo de bom e ruim
fica esquecido.

Agora, porém, levo comigo
as lembranças boas
as ausências.

Em dias aleatórios
lembro dos meus pais
e choro pelas madrugadas.

Em tardes aleatórias
chorava por minha mãe
caminhando em lembranças.

Fingi me acostumar
porque a vida segue,
está bem.

O coração, apenas,
teima em fazer dessas
e a gente não controla.

Esqueci minhas perguntas
de quando tinha quinze anos,
as memórias continuam aqui.

Outro dia fez dois anos,
não escrevi, não falei,
pensei, senti.

Amanhã faz cinco anos
nunca sei ao certo
como vou agir.

Sinto sempre e muito, penso
falo pouco ou quase nada
pareço sempre igual.

Todo mundo sabe
ninguém é o que parece
lição pra recordar.

Não é possível
viver a vida
sem sofrer.

Não é bom
viver a vida
sem amar.

De alguma forma
é um mistério
a gente pode se encontrar.

A mesma música
um livro
uma ausência.

De alguma forma
não sei como
espero
a gente se encontra por aí.

Goiás, 27/06/2015 (1h22) – Anápolis, 21/05/2018 (20h08)

As dores da alma


Num dia qualquer você faz uma pergunta
enquanto caminha pelo corredor
e a pessoa ao lado acha tudo estranho.

Num dia comum o algodão branco do céu
parece mais triste porque o azul não brilha
e as mesmas pessoas amadas aborrecem.

Num dia desses você perambula pelas ruas
que já conhece vendo as casas repetidas
e a cidade parece mais feia e mais suja.

Num dia assim a grama verde de ontem
fica seca, feia, não tem a menor graça
e as árvores estão todas amarelas.

As dores da alma calam mais fundo,
a solidão ruge mais forte no peito
e você não sabe exatamente por quê.

Formosa, 23 de maio de 2018.

sábado, 26 de maio de 2018

Há dias ruins


Há dias ruins
em que o mundo
perde as cores
e as luzes são escuras.

Há dias ruins
em que você diz
palavras inadequadas
e percebe logo depois.

Há dias ruins
em que chegam
notícias desequilibradas
e a vida se contorce.

Há dias ruins
em que a solidão
é um fardo muito grande
e não dá pra carregar.

Há dias ruins
em que o amor
está tão longe
mal dá pra ver.

Há dias ruins
sabemos, e eles
fazem parte da vida
como os outros.

Formosa, 23 de maio de 2018.

domingo, 13 de maio de 2018

Aos órfãos de muitas mães


No segundo domingo de maio
desejo aos órfãos de muitas mães
o encontro do amor imerecido
em algum canto da vida.

Sentimos diferente a ausência
e no fundo não sei o que é pior,
ter mãe e perdê-la cedo demais,
procurá-la sem poder achar.

Nosso caminho é um grande mistério,
a esperança move o coração vazio
e queremos, precisamos, todos juntos
preenchê-lo com graça e verdade.

O que mais lembro


O que mais lembro de minha mãe
é seu sorriso franco e aberto
enchendo tudo ao redor.

Sinto seu amor nas velhas fotos,
procuro por ela em orações
e Deus me estende as mãos nas lágrimas.

Nos domingos solitários
o vazio aperta o peito,
silêncio é o consolo impossível.

O amor de mãe, na lembrança,
me faz esquecer a aridez
engastada na pele.

Todos nós que somos filhos
não sabemos muito bem
a grandeza desse laço.

Eu, que sou filho
de uma mãe há muito ausente
fico perdido a meditar.

Guardo no coração
as eternas lições
aprendidas sem saber.

O sorriso alegre
tem grande poder.

O perdão gratuito
é urgência da vida.

O amor, o amor verdadeiro,
supera tudo mais.

Mãe


Eu perambulava pelas ruas
sob a chuva fina, mãe,
e você me perguntava
onde eu ia, o que fazia
e se voltava.

Sumi muitas vezes
sem dizer as respostas
e seu coração se esvaziava,
eu sei.

Eu voltava e você
sempre estava lá
e cantava a adolescência comigo.

Ah, que coisa incrível, mãe,
você lavando a louça
Hey, ho, let’s go!

Eu queria escrever, mãe,
por pra fora o mundo represado,
e você lia comigo
e traduzia meus poemas ruins
porque o rock com os amigos
precisava do inglês.

Criancinha, antes de dormir,
você me ensinava orações
e a ficar sozinho
sem medo do escuro.

Que coisa horrível, mãe,
você me via de farda
na escola das agulhas negras
e eu disse que não.

Fui pra longe de você, mãe,
mas não era culpa sua,
no fundo a vida me chamava
e eu fui, assim mesmo,
sem pensar.

Corri para longe
procurando Deus no mundo
e tentando ser melhor
cometi muitos enganos.

Eu gostava de voltar, mãe,
mesmo sem dizer,
não ficava olhando
da janela do ônibus
porque tinha medo de sofrer.

O medo e a solidão, mãe,
endurecem o coração,
hoje eu sei
e você tentava me contar.

Estava ocupado, mãe,
com os anseios da juventude,
a dureza da verdade,
o ímpeto sem delicadeza.

Eu era jovem, mãe,
e não tive tempo de voltar,
era jovem, sem experiência,
só queria fazer o que era certo.

Naquele tempo eu achava, mãe,
o que acham todas as crianças,
você estaria sempre
esperando-me chegar.

E então, mãe, o telefone tocou
e eu corri pra ver você,
mas era a hora da partida.

Mantive a firmeza e a esperança, mãe,
segurando a sua mão
na ambulância sozinho
entre os hospitais.

Não deu tempo, mãe,
de crescer e aprender
a amar como você
e a sorrir pra todo mundo.

Muita gente foi se despedir, mãe,
e me abraçaram e beijaram,
e eu continuei indo adiante
porque agora, mãe,
não podia mais voltar.