sábado, 22 de janeiro de 2011

Eu tenho medo do escuro




A peãozada posta para recauchutar
a poesia,
cowboys, estilhaços,
a mente ferve.
Crianças feitas para recauchutar
a vida
vai assim.

Não uso ácido
Não quero filhos
Acredito em Deus.

Fico com raiva quando vejo o boi
pulando como um louco no rodeio,
quero que ele chifre o peão.

Deus está lá em cima
olhando pra mim
eu sei.

Queria falar melhor com ele.

O peão sabe
que dói no boi
quando a espora bate na barriga.
Bate mesmo assim.

As crianças crescem
mal educadas
e me deixam desesperançado.

Mas algumas pessoas são boas
e eu tenho esperança outra vez.

Minha mãe morreu,
minha sogra teve câncer,
minha irmã teve câncer,
um bebê doente,
onde está Deus aí?

Eu sei, outra e outra vez,
não vou entender tudo,
mas quero entender 
mesmo assim.

Estupidez.

Mas as crianças nascem
nos lares pobres
mesmo assim.

A droga destrói a mente
e os intelectuais usam
mesmo assim

Eu tenho raiva
às vezes.
Faço uma oração,
não escuto nada,
e repito.

Eu duvido,
o ateu também duvida.

Pode ser, pode não ser.

A roda gira
e a gente vai
seguindo alguma coisa
mesmo dizendo que não.

Eeu sei
só não consigo ver.

Cowboys pisados
a mente estilhaçada
como é o ser humano.
Deus olha lá de cima
perto-longe.

Ha!

E essa angústia que não passa
às vezes.

É que não ando muito bem.

A noite escura da alma de João da Cruz,
o peregrino russo,
não sei não sei não sei.
Sei.

É assim.

Uma vida puxa a outra,
o filho renova o pai
e vamos levando.

Ai ai!

Tem tanta coisa louca:
Deus existir é absurdo
mas não existir é mais ainda!

Todo mundo acredita
(mas se esconde no cantinho,
com medo de admitir)
em alguma coisa
(fala que não,
que é isso ou aquilo),
é fácil perceber
(tem tanta bobagem,
nem dá pra contar).

Ah, quanta gente.
Pensei mentirosa
mas mudei de ideia.

Mas, acho, a maioria é mentirosa.

Pode ser.

Eu sou mentiroso ou não sei.

T. S. Elliot, Chesterton, Lewis, meus amigos.

Uns falaram que Deus morreu
mas eu não vi nada.
É difícil vê-lo vivo
mas morto,
epa!,
que tonteira!

Freud, Russell, Wells.

Porque a ciência disse
(imagine um velho
com ar empolado
e óculos na ponta do nariz)
isso e aquilo.

E eu disse que não.

Então e daí?

Só porque eu quero
então não existe?

Bobalhões.

Eu converso comigo e sou um amigo imaginário.

Viva Alice no país das maravilhas.

Use a imaginação
para ver coisas indizíveis
a não ser que seja cientista
e ache que a imaginação
é uma mentira mentirosa.

Mas eu também imito 
um sapo saltitante
e quero montar uma casa
para acolher os pobres, os drogados e os peregrinos.

Meu Jesus!

Será que o Bush era a besta do Apocalipe?
Bobagem.
E o que será que significa
"Jesus Cristo está voltando"?

Tenho muitos amigos
e vou levando a vida
converso mais comigo
que com eles.

Um sorriso, um abraço.

Vai me dizer que o amor é uma bobagem!

Meu Jesus!

É ou não?

Parece?

É preciso se posicionar.

De minha parte
sou trôpego
quase bêbado
inválido.

Não não não.

Fervilho e não sei o que fazer
como um bobo infeliz
pior que uma criança,
pior,
mas a verdade 
não depende de mim.

É preciso escolher um lado.

É assim
deve ser.

Não pergunte o porquê.

Minha resposta
nunca vai ser a sua
e você ficará com fome.

Decisão.

Você sabe o que parece
fazer algum sentido.
Vai me dizer que não precisa sentido
mas qual!

E a beleza?
Poesia?

Bata na porta
alguém vai responder.
É verdade que pode demorar
mas é melhor que ficar na rua
molhado da chuva
com medo do escuro.

2009-2011.