segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Tão rápido


Ainda me impressionam
as pessoas na sala de espera
do consultório psiquiátrico
olhando arregaladas os telefones.

Às vezes me pedem
que mande mensagem no zap,
respondo que não,
não posso, não quero,
e me olham estranho.

Sou de outro tempo
e nem sou tão velho assim.

Não é questão de idade,
gosto de olhar nos olhos,
de reparar nas caras esquisitas,
gosto até do tédio
das revistas velhas
sempre de direita,
de banalidades,
que folheávamos
esperando o tempo.

Outro dia me explicaram
o que era Pokemon, pokebola
e não fez sentido.
Nenhum.

Daí às vezes me preocupo
de nos vigiarem
e seguirem
e matarem
às vezes de outra forma.

Mas então, o que fazer,
todos estão nessa coisa
de teclar com polegares,
tirar fotos de si,
usar ainda mais palavras inglesas.

Comprar comprar comprar.

Tenho que dizer onde estou
pra pegar um táxi mais barato,
pra namorada ficar tranquila,
pra provar qualquer coisa.

Não quero e me lembro
dos dias na estrada
por aí, pelo mundo,
inseguro e sem medo.

Eram outras esperanças dez anos atrás.

Penso mesmo em plantar umas alfaces,
colher e sujar a mão de terra,
e ficar ali num canto
vendo os outros passarem
tão rápido.