sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Areia

Eles pareciam crianças
brincando nas ondas do mar
e eu desejava somente
que ficasse tudo bem.

Toda aquela tensão
permanente
me fazia sofrer
desejava
somente não estar ali.

Desejava a solidão
mas ali na beira do mar
a chuva chegando
um sol fraco
me iluminou os olhos
eu vi de longe um sorriso
e quase sem querer
fraquinho
apareceu em mim
um fio tênue
de esperança.

Imbassaí, 10 de janeiro de 2009.

Aniversário da Revolução Cubana

ou

Sobre quando os celulares significam liberdade


Em dois dias faz aniversário
a famosa revolução.
Do alto da Serra
os camponeses desciam para lutar
os velhos aprendiam a ler.
Sangue terra liberdade!

Agora os celulares chegam à ilha
e outras mudanças que alegram
a comunidade internacional.

-- Sabe que em Cuba
eles têm educação e saúde
mas o resto não.
-- E nós aqui temos todo o resto
menos educação e saúde.

Salvador, 30 de dezembro de 2008.

Quando a chuva cai

É uma escrita raivosa
(ou pode ser feliz)
como quando a chuva cai
e você pensa em Deus
se pergunta os porquês
já sabe sem resposta
pergunta assim mesmo
porque é um grito
não consegue segurar
mas só gritos, não!
quero cantar também
como quando você sai
e encontra por aí
desesperançado
uma bondade no escuro
um sorriso no vazio
como quando a chuva cai
e depois quando bate o sol
e você pensa em Deus
e no mundo e na vida e na chuva
e nos porquês
e mesmo assim
a vida segue
em derrocada triunfo
resistência dor
e esperança
de quando bate o sol.

Campinas, dezembro de 2008.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Poema da estrada para um amigo distante

Para Daniel



A mineirice do mineiro
a baianice do baiano
vão grudando na memória
como o pó da estrada.
Vamos seguindo adiante
entre falastrões e canalhas
solidários e amistosos,
vão passando
os carros os caminhões os ônibus
da gente que vai e vem.
É Natal! É Natal!
Lembramos sempre
em cada posto
em cada buraco do caminho
que somos assim
mas não como Daniel Wegman,
vamos longe
mas nem tanto,
e no caminho
a cada passo
a cada curva da estrada
pensamos nos queridos
nos iguais
e lembramos, amigo,
dos bons momentos
com saudade e admiração
e vamos rolando como pedras
voando como um bem-te-vi
tomando mais um copo de café
num novo século de impostores
e tiramos de repente as máscaras
e você sabe quem nós somos
e nós sabemos quem é você.
O que queremos, amigo,
com o coração junto ao seu,
é que o seu caminho distante,
distante de nós,
seja como o nosso
apesar de tudo
um caminho bom.

Itaberaba, 24 de dezembro de 2008.