sábado, 28 de fevereiro de 2009

Eu

Eu era um homem andando pela estrada.
Eu era Bob Dylan zanzando por New Orleans.
Eu era um pássaro voando na Primavera.
Eu era a folha caída no Outono.

Eu, que nunca fui mágico e não estive em Paris,
cheio de sentimentos, nem sozinho nem acompanhado
cantei pela rua o amor que não senti.

Eu era um poeta trágico na Grécia antiga,
conversei com William Blake
e com Tolstói sobre a liberdade
morei nos bosques com Thoreau
fiquei sozinho no sábado à noite
imaginando a vida.

Eu era a flor seca dentro de um livro
cheirando a palavras de igualdade
como se o mundo fosse de verdade.

Eu era a voz suave de Joan Baez
cantando doce para o Sr. Galahad
e a psicodelia sem LSD.

Eu vi vênus no céu brilhando azul
ao lado da lua crescente,
eu era um sorriso logo de manhã
no alto da cordilheira nevada,
um condor planando solitário,
eu era o vento.

Eu era tudo e nada,
a luz da manhã que afasta o medo,
eu era a justiça vencendo no fim
como se o mundo fosse de verdade.

Eu era um incógnito escutando
um sermão importante
aos pés de Deus.

Eu era Gandhi
esperando
e agindo na hora certa.

Eu era Luther King
gritando sobre a igualdade
com um tiro no coração.

Eu, que escrevo essas palavras,
sou só mais um observador
cheio de esperanças infinitas
como as borboletas voando
milhares de quilômetros improváveis,
me vejo refletido no espelho
com o resto da humanidade.

Campinas, 28 de fevereiro de 2009.