sábado, 16 de dezembro de 2017

Esses nossos tempos

Não há porque ter orgulho, só amor.

Amor pelos jovens que cultuam o ódio
e pelos velhos que destilam rancor.

Amor pelas crianças,
ainda não conhecem
a sujeira do mundo.

Amor pela vida exuberante,
pelos bichinhos singelos
e pelas grandes florestas.

Amor, o amor, é só o amor.

Não quero o amor supérfluo pelas coisas
ou inconstante e circunstancial.

Não me acuse de ingenuidade
como se não visse
a vida violenta
batendo em nossa cara.

Vemos todos nós
mas só saber não basta,
só agir não basta,
só lutar não basta.

Tudo é essencial, tudo, tudo!

É preciso amar,
amar muito, infinito.

E o mundo novo que queremos
não pode ser como esse,
feio, sujo e cruel.

Formosa, 14 de dezembro de 2017.

Quando eu andava pela América do Sul

Quando eu andava pela América do Sul
tinha 25 anos e não pensava
na coincidência entre a canção
e a vida errante.

O coração sangrava enquanto o mundo,
o mundo se abria, ó meu Deus!
A vida era outra
era nova, era breve,
era urgente,
sem dinheiro nem compras,
sem frescura e sex appeal.

Pensava então na ajuda mútua,
a solidariedade gratuita,
encontramos por aí.

Sentia um pouco de fome,
pedi comida umas vezes,
dormi em praças, praias e quintais.

Eu via o mundo
de olhos bem abertos
distante e alegre como nunca mais.

Nunca mais pude ser
quem tinha sido antes,
a solidão era outra
e os amigos os mesmos.

Tentando ser poeta
acabei professor.

Mas não se engane você
como se fosse tudo mal
e a insatisfação
uma coisa tão essencial.

Esse mundo passando,
essa América confusa,
esse tanto de gente
assim boa e generosa
me ensinou a estar contente
onde quer que eu esteja
e a ajudar a quem puder.

São Paulo, 11 de dezembro de 2017.

São Paulo 17

São Paulo vista do alto
parece bonita,
quase acolhedora.

De longe, lá de cima,
os rios serpenteiam para longe,
oeste das bandeiras.

De perto, em baixo,
passa a gente cinza e marrom,
a pressa é o decoro da metrópole.

São Paulo é suja e cheira mal.

A mulher logo ali está grávida
seu marido dorme ao lado
e ninguém nem vê.

Smartphones, esbarrões,
acidentes e o tumulto,
o centro velho que revive.

Os bons amigos,
fé e poesia,
alguma esperança ainda nos move.

São Paulo, te detesto,
mas sempre volto pra te ver.

São Paulo, 11 de dezembro de 2017.

domingo, 19 de novembro de 2017

Num domingo à tarde

Entre os acadêmicos
gostaria de ser um sacerdote
com toga, estola e até capa,
falar do sagrado e da vida
como importa que seja.

Entre os sacerdotes
gostaria de ser um acadêmico
com diplomas e artigos,
falar do estudo e da ciência
no santo combate à ignorância.

Estou, porém, longe dos sacerdotes
que influenciam multidões.

Estou, também, longe dos acadêmicos
que formam opiniões.

Resta-me ser um poeta pequeno
e escrever versos num domingo à tarde
e sonhar com um bolo caseiro
quentinho no forno,
feito com amor.

Anápolis, 19 de novembro de 2017.

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Numa noite qualquer

Às vezes, numa noite qualquer,
quando se espera das máquinas
as mesmas mensagens desprezíveis,
como já nos acostumamos
a ver todos os dias,
chegam palavras de afeto
e carinho e gratidão
lembrando que a vida
apesar de tudo
não precisa ser tão dura
e pode ser, sim!
um pouquinho melhor.

Antes que o mundo acabe

Os tempos são difíceis
qualquer um pode notar.

Ódio, raiva e rancor
fermentam as palavras
imprudentes digitais.

Em muitos jovens
a esperança do futuro!
pulsa forte o coração
o retorno a tempos vis.

Será o futuro
apenas passado repetido?
Serão os jovens
velhos antes do tempo?

A mão que bate
também pode afagar.
O perdão, verdade!,
engole todo rancor.
O amor verdadeiro
nos livra do ódio.

Não fugiremos da luta,
a vida é dura
e ninguém vai fingir
que está tudo bem.

Os tempos difíceis
não derreterão nossa esperança
nem congelarão o afeto.

A ternura em nossa vida
faz ressurgir
anseios esquecidos.

Precisamos disso
antes que o mundo acabe.

Formosa, 1º de novembro de 2017.