terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Questões essenciais

Cuspo as vísceras de lado
um grito de angústia
grito
grito ecoa.
Uivo como um lobo
como um poeta,
espero como os urubus
ou como os flamingos,
bato palmas, aceno
sou um bom mestre aprendiz.
Um pouco das coisas
se resolvem com o tempo,
outro tanto com uma
boa noite de sono
e ainda há problemas
que com uma refeição completa
são resolvidos.
Aí restam apenas
as questões essenciais.

Governador Valadares, 23 de dezembro de 2008.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Não sei exatamente o que fazer

Já foi a segunda vez que aconteceu
e de novo eu não soube o que fazer,
e como me acontece, cada vez mais
não saber exatamente o que fazer.

Eram meias à venda em frente de minha casa
e perfume, protetor solar, e essas coisas
que eu não comprei e fiquei pensando
no desejo de ajudar a senhora
andando pela rua com essas coisas pesadas
levando a vida, trabalhando duramente,
e outra vez vem todo o mundo em minha cabeça
toda a miséria, toda a amargura, toda a podridão
e tantas coisas para fazer, tantos lados para ir,
e eu não sei exatamente o que fazer.

Desejo, e só o desejo não é suficiente.

Enquanto eu penso em minha angústia
a mulher que me ofereceu perfumes
segue andando pela rua
trabalhando, sim, trabalhando duramente
e eu não sei exatamente o que fazer.

Podia, pelo menos, ter oferecido um café,
eu, que já estive do outro lado,
por incrível que pareça sinto saudades
de pedir o pão velho, o resto do almoço,
da vida simples.

Como é bom ouvir um sim
você até esquece os infinitos nãos
e se delicia com a caridade,
com a atenção.

Da próxima vez, pelo menos,
vou oferecer um copo d'água
e pode ser que depois disso
me venha alguma boa idéia na cabeça.

Campinas, 12 de dezembro de 2008.

Porque

Ele não disse nada
e eu, talvez, também
não devesse dizer.
Os olhos arregalados
a surpresa atroz
revelaram-se nos outros
ao redor, que viram
a morte carregando um homem
enquanto os trens deslizavam
pelos trilhos do metrô
e o mundo não podia parar.
Um terrível engano,
um pedido de desculpas,
é o mundo moderno
que deixa as pessoas
highly stressed
a ponto de matarem uns
aos outros sem saber
exatamente
porquê.

Campinas, 12 de dezembro de 2008.