sábado, 7 de setembro de 2019

Sete de setembro

Não se engane,
sempre tivemos entre nós
facínoras despudorados
nos bares com cervejinhas,
nas festas de Natal,
nas reuniões de condomínio,
por aí.

Parece, não sei bem,
isso se disfarçava
– um pouco –
pela nossa alegria,
o desejo de sermos bons,
o sonho do Brasil
país do futuro,
potência simpática.

A gente tinha o samba,
a seleção de 82,
a Amazônia toda verde,
os índios do Xingu.

Um pouco depois
tínhamos sonhos bons,
as crianças nas escolas,
os jovens fazendo faculdade,
a ciência brilhando,
ninguém com fome entre nós.

Os facínoras se calavam,
seu ódio envergonhado
se adoçava de outras coisas.

Agora os sonhos são outros,
matar os desajustados,
chicotear os pretos no tronco,
queimar e cortar a floresta,
destruir educação e ciência.

Acabou a mamata!

Somos um novo país
cheio de bons patriotas
que cantam sem entender
nosso esplêndido hino
nos jogos de futebol.

Voltamos no tempo,
parece,
mas não.
Nosso melhor desenho,
nossa foto no espelho,
são os comentários malditos
nas matérias mais absurdas
publicadas na rede mundial
e também as mentiras
nos grupos de zap zap.

Celebramos a ignorância,
abraçamos o ódio,
vamos para a guerra,
é nossa religião.

Os facínoras,
sempre entre nós,
estufam o peito
e discursam malfeitos
em rede nacional.

É o Brasil,
meu Brasil brasileiro!

Para todos nós
no pesadelo de olhos abertos
infeliz dia da independência.

Anápolis, 7 de setembro de 2019.

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