quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Meu amigo visionário


Estávamos na sexta série
e devíamos apresentar um trabalho.

Meu amigo teve uma ideia
acabei por acatar
sem saber muito porquê,
mas já não me importa.

Vamos cantar – disse ele
uma música muito boa,
deu a letra e ensinou
parte a parte.

No dia certo fomos lá
na frente dos outros
um papel na mão,
a melodia na cabeça,
as pernas tremendo um pouco,
a voz desafinada.

Abandonei o coral aos onze anos
e pensava nas brincadeiras infantis,
os jogos e piadas meio tontas.

Meu amigo não,
meu amigo era um visionário,
sabia de outras coisas.

Só percebi depois
e hoje vejo ainda mais.

Na frente da turma
aos onze anos
com medo e vergonha
começamos e nunca esqueci:
“Quando está escuro
e ninguém te ouve...”

Eu ainda era criança,
mas tinha um amigo visionário.

Não me lembro seu nome,
mudei de escola
e nunca mais o vi.

Anápolis, 19 de setembro de 2019.

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