segunda-feira, 7 de julho de 2008

Papel

Que bonitos são hoje
as desgraças de ontem no papel.
Com a tranquilidade de uma faca
cortando o ventre de um menino
e girando suave nas vísceras,
a tinta despeja a forma
indignada e lírica
da boa literatura.

Prêmios
sem consolação
ao escritor.

A frieza de ontem
crua, seca,
civilizada,
hoje é raiva
de impossibilidades.

A crueldade de hoje
será indignação
amanhã.
E boa literatura
e prêmios
no papel.

No papel
a vida sem vida
bonita na tristeza,
na forma e circunstância
de seu tempo.

Nos prêmios,
nos artistas laureados
os gritos dos meninos,
as mulheres estupradas pela história,
a gente comum
que sangra destroçada
nos dias de hoje,
não se escutam.
Mas estão lá
ontem, na vida,
hoje...

Silêncio,
a humanidade
é de papel.

21 de junho de 2008

Um comentário:

André Vadão disse...

Artisticamente sincero. Ácido pois não hipócrita. Urge-se de poesia no estilo de Cristo, com astúcia, arte e amor a verdade.