terça-feira, 10 de junho de 2008

Ontem à noite

Ontem à noite eu vomitei.
Era madrugada,
comi algo, não caiu bem.
Vai ver era um verme
na salada.

Aí ia viajar
e não fui,
ia no banco,
fui, mas não fiz o que ia fazer.
Esqueci.
Ia fazer o cadastro da imobiliária
na internet
e não fiz.
Esqueci.

Uma vez eu vomitei
lá na Ilha do Sol,
no lago Titicaca,
comi uma truta estragada
ou a altitude não me fez bem.

Hoje a Holanda enfiou três na Itália.
Parecia 74.

Liguei para um amigo
e falamos ao telefone
sobre o caso acusativo
de um substantivo feminino
do texto grego
do Novo Testamento.

Depois pedi pra uma amiga
fazer um favor,
me passar por email
a certidão de nascimento
do namorado e também
a certidão de casamento
da mãe dele,
por email.

À tarde estava com fome
comi um bolo de milho
meio quente
e fiquei com medo
de passar mal
de novo.
Logo eu, estômago de avestruz.

Passo mal de quatro em quatro anos.

Um dia depois de vomitar,
a fraqueza desidratada,
amanhã levanto cedo
e vou embora.

Itapevi, 9 de junho de 2008

Um comentário:

André Vadão disse...

poesia-cotidiano
Eu imagino as situações geradoras
desses versos...
Romito e a lingua grega...
busca de fiador...
estomago jogando a toalha...
seiva de poesia encharcando
com grande cotas de arte
o cotidiano que se presume
cinza e sem arte