sexta-feira, 1 de junho de 2018

Como poderei


Como poderei deixar a poesia
e me voltar para textos sem sentido
dizendo coisas que não quero dizer?

Não posso, não consigo abandonar a arte
- uma menina dança num vídeo -
por essas coisas tão importantes da vida
como o trabalho incessante dos dias.

A música da minha juventude
pulsa no coração, pulsa como antes,
e sempre volto.

A vida chama, obriga, bate,
a gente vai, lava um pouco da louça,
fica na reunião até o final,
discute, reforma, prepara,
corre no mercado comprar o esquecimento.

Enquanto isso passa rápido
na cabeça coração devaneio
estão as velhas canções
o quadro lindo da exposição
os versos tocantes do amigo
o céu azul no parque
(com toalha e pique nique)
o balé da década passada
a peça durante a greve
o Elvis dançando na rua
o show que vimos juntos
a oração solitária e de mãos dadas.

Parece pouco, talvez,
mas é tudo.

Anápolis, 1º de junho de 2018.

Nenhum comentário: