sábado, 19 de fevereiro de 2011

A alma sobrevive


O sangue se esparramou na cara
na calçada ficou e secou
como a memória seca
esquecida com o tempo.

Os ossos quebrados doem
na nossa vista por um instante,
doem na mesa de cirurgia,
na cicatriz e no medo
o resto da vida.

Olhe ali o nariz quebrado no chão,
olhe ali os oito fardados,
a multidão ensandecida,
a desrazão de todos nós.

Reinvento Freud,
a doença da civilização brasileira,
Whitman diz dormindo
Oh, Brasil, imenso,
até quando?

O gás, a bomba moral,
a explosão da moral,
vale a pena andar por aí
ainda, ou deve ser melhor
o livro, a tv, a internet.

Mas ele voou sobre o policial,
falta-lhe a disciplina de Luther King,
não, ele não leu Liev Tolstoi
ou simplesmente na hora
não conseguiu se controlar.

Às vezes a raiva vence
e Jesus de longe observando
faz que não com a cabeça
e corre para abraçar.

Correm para socorrer
todos os cristãos mortos
e Madre Teresa de Calcutá
vem lavar as feridas.

Os cristãos vivos
compram um carro
e passam longe dos ônibus
dos protestos e da desordem social
e veem tudo em casa
pelas notícias das redes sociais
e comentam.

A pregação dos pastores
quase sempre não encosta
nem de levinho
em minha alma de ressaca.

Fernando Pessoa e García Lorca
fazem não com a cabeça.

Mas Jesus, o Evangelho que aprendi,
volto pra ele cansado,
cheio de desânimo
e encho os pulmões,
sôfrego, sem os ossos da cara estilhaçados,
lembrando da tropa de choque,
os cavalos imponentes
e tanta raiva.

A alma sobrevive.

É tão bonito
ver o amor desabrochando
quando uma pessoa
olha para outra,
firme, esquece o mundo,
pronta para ajudar,
fazer-lhe uma oraçãozinha que seja,
concentrar nela seus pensamentos
por um segundinho só.

Esse segundinho é tão difícil
na hora, naquela hora mais necessária, ai!
não consegui dar a outra face.
E então mundo inteiro me condena,
reprova minha atitude,
a falta de firmeza,
a tibiez de caráter,
pulsilânime.

Mas Jesus olha lá de longe,
faz não com a cabeça
e vem abraçar todos,
o desordeiro cheio de ideias,
o bom cidadão que julga o mundo de sua casa,
o poeta inspirado na frente do computador,
o policial fardado e com cacetete
e até mesmo os cristãos.
Abraça com calma e paciência. Oh!

Não me julguem inocente, amigos,
já sei, quero ser como as crianças,
não me julguem desordeiro, amigos,
já sei, quero ser como os revolucionários,
não me condenem, amigos,
deixem isso comigo,
eu preciso de todos vocês
e quero dar de graça
aquela coisinha, todos precisamos,
é pouco, eu sei, desculpem!,
o amor.

Cidade de Goiás, 19 de fevereiro de 2011.

3 comentários:

Lívia disse...

Fazia muito tempo q eu nao vinha no seu blog, Gera. Este último poema, do amor, lindo, lindo.

Anônimo disse...

Faço minhas essas palavras precisas!!

abraço!

agitandopañuelos disse...

Genial!! sabes que soy una de tus admiradoras mas fervientes!!
Tenés talento para plasmar el pensamiento de muchos,en tus escritos, eso es bueno!!
abrazo!