O desespero dos dias é a nova forma de existir.
Contamos os mortos
sem estar em guerra,
a cada dia morremos
de medo e de vergonha
porque nunca vimos
tanta insensatez.
Conhecemos a
loucura, todos nós que fomos jovens e sofremos.
Essa dose, esse
nível, ao mesmo tempo,
faz corar até o
revolucionário mais niilista
e todos nós sabemos
que niilistas não coram, mas se irritam.
Todos nós,
minimamente sensatos
(ou estamos loucos e
não sabemos)
não fomos –
totalmente – pervertidos pelo ódio,
mas os dias nos
ensinam a odiar.
Não poderemos
resistir sem raiva, parece,
e odiaremos o ódio
com todas as forças,
o ódio presente, o
sangue presente,
a vida presente, os
olhos vermelhos.
A vida é prematura,
o ano nasceu sem
esperanças,
queremos ir embora
antes que a tudo
vire amargo.
A vida em desespero
é pegajosa.
Não sei se vamos
juntos
de mãos dadas e
abraçados,
cantando ou em
silêncio.
Já não nutro
tantas esperanças.
Talvez devesse, mas
não posso.
Este ano é sujo,
oleoso
e já nasceu velho.
O que pensam os
jovens antes de dormir…
Eu penso em sonhos e
na vida presente,
no futuro passado.
Amanhã o sol nasce,
é domingo,
haverá festa em
algum lugar.
Não aqui.
20 de junho de 2020.
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