quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Santo ofício policial


A multidão andava, rápido,
corria ensandecida.
Os carros de som
bradavam inaudíveis.
As bombas de efeito imoral
caíam incontáveis.
As bombas de gás
voavam infinitas.
Spray pimenta
balas de borracha
cavalaria.

É que viraram um carro
tudo está justificado.

Sobre os pecados da polícia
desce imediatamente
a graça divina:
fazem seu trabalho.

Trabalhar, hoje,
é sagrado!
São Paulo disse:
quem não quer trabalhar
não coma.

Picharam umas paredes
tudo está justificado.

Na cortina de fumaça
chovem bombas
sobre a multidão.

Crianças perdidas,
adultos desconsolados,
jovens resistem.

Barricadas, fogo!

Depois do santo ofício
exercido sem moderação
ninguém reclama
do carro queimado.

A multidão recuava
por todos os lados.

Um menino solitário,
calça jeans, sem camisa,
lenço no rosto,
solidário com a vida
gritava e desviava
todos, todos!

Havia um ninhozinho
de Quero-quero.
A mãezinha berrava,
mais que as bombas.
A multidão com medo
desviava, respeitosa.

Marchavam os cachorros
dos donos do poder.
Os rastros da dor
cruzavam o ar
antes de explodir.

Passaram todos pelo ninho,
e então vieram.

O que foi do passarinho?

A polícia,
a polícia não desvia.

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