segunda-feira, 4 de maio de 2009

Elegia do sono

Febril, débil, solitário,
(Faz um silêncio crepuscular
que se perde na noite,
escura, claro)
espera um encontro sedutor,
cala-se, espera,
tranqüilo, cheio de certeza.
Revolve os cantos da memória,
vasculha o tempo
como se varresse a grama do quintal.
Está sentado, ou deitado, tanto faz,
enquanto vê um mover
que é cataclísmico e inseguro,
um farfalhar de vozes
vazias e isoladas,
alheias ao tempo,
amarelas, farelentas,
disformes.
No vagar arrastado da mente
os pensamentos passam devagar.
Ao mesmo tempo
os passos da calçada
pisam rápido e cinza
seguros, intranqüilos
e sem direção.
No respirar profundo
sente a vida inteira
com cores de arco-íris,
e o resfolegar sôfrego da multidão
vê uma fuligem tomar conta do mundo.
Olhos fechados de propósito
compreendem tudo,
sem esforço, azuis,
e os olhares confusos,
presos a objetos, objetivos,
raciocinam sem parar
num ir e vir
que é na verdade
um eterno retorno
ao nada.
Então esquece, sereno,
tudo que não vale a pena
e adormece pela última vez.

09.08.2007

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