Quando eu andava pela América do Sul
tinha 25 anos e não pensava
na coincidência entre a canção
e a vida errante.
O coração sangrava enquanto o mundo,
o mundo se abria, ó meu Deus!
A vida era outra
era nova, era breve,
era urgente,
sem dinheiro nem compras,
sem frescura e sex appeal.
Pensava então na ajuda mútua,
a solidariedade gratuita,
encontramos por aí.
Sentia um pouco de fome,
pedi comida umas vezes,
dormi em praças, praias e quintais.
Eu via o mundo
de olhos bem abertos
distante e alegre como nunca mais.
Nunca mais pude ser
quem tinha sido antes,
a solidão era outra
e os amigos os mesmos.
Tentando ser poeta
acabei professor.
Mas não se engane você
como se fosse tudo mal
e a insatisfação
uma coisa tão essencial.
Esse mundo passando,
essa América confusa,
esse tanto de gente
assim boa e generosa
me ensinou a estar contente
onde quer que eu esteja
e a ajudar a quem puder.
São Paulo, 11 de dezembro de 2017.
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