A multidão andava,
rápido,
corria ensandecida.
Os carros de som
bradavam inaudíveis.
As bombas de efeito
imoral
caíam incontáveis.
As bombas de gás
voavam infinitas.
Spray pimenta
balas de borracha
cavalaria.
É que viraram um
carro
tudo está
justificado.
Sobre os pecados da
polícia
desce imediatamente
a graça divina:
fazem seu trabalho.
Trabalhar, hoje,
é sagrado!
São Paulo disse:
quem não quer
trabalhar
não coma.
Picharam umas
paredes
tudo está
justificado.
Na cortina de fumaça
chovem bombas
sobre a multidão.
Crianças perdidas,
adultos
desconsolados,
jovens resistem.
Barricadas, fogo!
Depois do santo
ofício
exercido sem
moderação
ninguém reclama
do carro queimado.
A multidão recuava
por todos os lados.
Um menino solitário,
calça jeans, sem
camisa,
lenço no rosto,
solidário com a
vida
gritava e desviava
todos, todos!
Havia um ninhozinho
de Quero-quero.
A mãezinha berrava,
mais que as bombas.
A multidão com medo
desviava,
respeitosa.
Marchavam os
cachorros
dos donos do poder.
Os rastros da dor
cruzavam o ar
antes de explodir.
Passaram todos pelo
ninho,
e então vieram.
O que foi do
passarinho?
A polícia,
a polícia não
desvia.
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