As palavras que me ferem
sinto-as tão profundamente
como se fossem um enorme sino
soando regular, um marca-passo,
engolindo todos os outros sons
e impregnando tudo o que faço.
As palavras de amor
me são tão necessárias
quanto a morte súbita
a alguém que já não aguenta mais.
Preciso tanto do esquecimento
para não ter o ruído surdo do rancor
devorando minha alma
como uma enorme sombra
a esconder o sol
numa manhã de Primavera.
Preciso tanto da memória
para sentir o sabor doce
das palavras de compaixão
e lembrar-me quem sou.
Não posso ouvir
todos os dias
os mesmos ruídos,
ver as mesmas imagens
ou seguir os mesmos caminhos.
Apenas sinto
- implacável -
o tempo passando, passando,
da vida que se esvai,
do que não volta,
da incerteza do porvir.
As palavras são marcas
como cicatrizes
de mim e do tempo,
uma tentativa
cheia de angústia e esperança
de dizer algo para alguém
além de mim.
A marca de que fujo
é a marca que preciso.
E então
aqui estou.
Já é quase fim de noite
e amanhã a vida rotineira me aguarda,
mas hoje ensaio
momentos de eternidade.
Campinas, 18 de abril de 2010.
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