Um livro lido,
um punho erguido,
um coração pulsando
são armas de ataque.
As palavras ditas,
os gritos em coro,
as almas em uníssono
são armas de ataque.
A sequência caótica dos dias,
o amigo desistente,
a tristeza dolorida
são armas de ataque.
O roubo do futuro,
o ódio recebido,
o desrespeito
são armas de ataque.
O governador injustiçado
apenas se defende
dos mestres indignos.
Os policiais ameaçados
apenas se defendem
dos mestres violentos.
A bomba explode
obedecendo ordens de defesa.
A arma atira
obedecendo ordens de defesa.
O cão ataca
obedecendo ordens de defesa.
Todos se defendem
dos mestres-monstros
ameaçadores.
Bem defendidos todos,
aprovam o roubo
e celebram o esquecimento futuro.
Todos bem seguros,
garantida a ordem,
entrevista coletiva:
black blocks infiltrados,
tropa de choque com medo,
pequenos excessos
talvez investigados.
Na praça, na vida de verdade,
o sangue pulsa,
o sangue jorra,
mancha as camisas,
marca o chão.
Sangue das veias
de pessoas vivas,
não a tinta vergonhosa
da mentira sempre infame.
Vinte policiais feridos,
diz o governador
na realidade inventada
do mundo dos jornais.
Na praça, na vida de verdade,
o contador impreciso de feridos
apenas cresce:
cem, duzendos, trezentos...
O assessores sábios
apenas expressam
a alegria incontida.
Os mestres são culpados
antes de tudo
pelo ataque.
Somos nós os culpados
por nossas feridas
e pelo sangue no chão.
Duas bombas, uma arma,
valem mais que um professor.
Depois de tanto ódio
nosso lamento é coitadismo,
devemos retomar a ordem,
trabalhar por amor.
Não se pode atacar assim
a polícia, os deputados, o governador,
a injustiça não pode prosperar.
O correto é obedecer calado,
abaixar a vista,
aquietar o coração.
São metáforas apenas
a bomba de efeito moral,
o gás lacrimogênio,
as armas não letais.
O sangue
pulsa nas veias,
o coração apertado
às vezes explode.
O punho erguido
nem sempre aguenta.
Nesses tempos difíceis
tudo bem chorar.
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