Quanto estava na
estrada
andando pela América
descobrindo quem era
– ah, eu me lembro
bem
da visão delirante da
Patagônia
a chegada em Bariloche
o Nahuel Huapi
impossível azul –
escrevi poemas ruins.
Escrevi poemas ruins
porque não sabia o que
dizer.
Um hippie nos disse
– esqueci de contar
viajava com um amigo
hoje casou, dois
filhos,
vive em Madison,
Wisconsin,
conheceu a mulher no
Chile,
depois de Bariloche,
de dormir na
cordilheira e
um velhinho dizer
pra não fumarmos
maconha
na caçamba fechada da
sua caminhonete
com banquinhos de
madeira adaptados,
vocês não vão
entender, eu sei,
mas a gente nem fumava
era só barba, cabelo,
sujeira –
mas o cara disse
que não tínhamos
roupas
para aguentar o frio do
inverno
não lembro se foi em
Buenos Aires
ou depois de Algarrobo,
a capital nacional do
alho
onde o Che Guevara
arrumou sua
motocicleta,
ou da carona com
Marisol
que não deu certo
e não chegamos a
Choele Choel.
Eu casei, Marisol
casou,
uma amiga de Las Grutas
agora vive em São
Paulo.
Onde está o professor
sulafricano
conversamos lá em
Machu Picchu
eu subia sozinho
as picadas para Huayna
Picchu
e não sei como
falamos sobre o
Apartheid,
o Brasil é a África
disfarçada
sem Desmond Tutu.
Onde estão Sandra,
Etienne, Lucho?
Está bem, a Sandra
está por aí,
nos falamos há alguns
anos
e vi umas fotos suas no
Facebook.
As amigas suecas
o futebol na Bolívia
– ah, trabalhei
porque o dinheiro
acabou.
Karen, a feminista,
nos levou para conhecer
Lima
quanto abrigos
recebemos
quantos nomes
esquecidos
quanta coisa
persistente.
Fui ver a América
e encontrei.
Aí é assim
quando a gente
não sabe o que dizer
conta umas histórias
e vive a vida
o melhor que pode.
Goiás, 15 de fevereiro
de 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário