eles estavam no caminho de casa
na moto velha de guerra
talvez conversando sobre banalidades
dessas que a gente fala todo dia
o que fazer pra comer
o preço do leite
o filho doente
o futuro.
Então quase ninguém ouviu
vindos do escuro, escondidos,
os ruídos repetidos sem cessar
desde o descobrimento
da Nossa América.
A vida deve sempre
dar lugar ao progresso.
Não é o bagre bigodudo
presente só no afluente do afluente do grande rio,
não é só a castanheira, o açaizeiro,
é o homem, a mulher,
o casal que hoje não volta pra casa.
Vai ver prendem uns pistoleiros
depois de dois anos regime semi-aberto,
de mil dos poderosos prendem um,
aguarda os mil recursos em liberdade.
Antes fosse a lei da selva!
Agora quem vai tirar
da cabeça das pessoas
esse progresso-trator infinito,
vai arrastando tudo
mata-mata-mata
preto, branco, índio, mestiço
mata floresta
mata cerrado
mata água
mata terra
mata ar?
Zé Castanha não colhe mais,
o boi do desenvolvimento
quer pastar no seu quintal.
A Maria foi mesmo pro Espírito Santo,
deixou o caminho aberto
pra moto-serra zunir
e fazer do Brasil potência.
O futuro deles não veio,
o nosso está aí por fazer.
Cidade de Goiás, 26 de maio de 2011.
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