Para Goiás
Devagar como as águas do riacho
a vida vai seguindo
até a próxima curva
a seca de todos os anos
e a ressurreição.
Escuto os sons
um por um
no escuro, à noite
sob o luar sorriso
um por um
devagar.
É verdade
tudo aqui demora mais
onde estão os lugares
os óculos não chegaram no prazo
o médico não veio hoje
os amigos
ainda estão escondidos.
Devagar espero
a vida adiante
a festa, o festival
ando no mato
banho no rio
sob o sol.
Caminho à noite pela cidade
de história e escravos
a tradição e a família
os outros como eu
fugindo e procurando.
A vida não acaba aqui
ela começa outra vez
até onde a gente não sabe
antes de fazer a curva
o rio pode secar.
É pequeno o labirinto
das ruas de pedra
as grandes árvores dos quintais
cantam ao entardecer.
Devagar
e só às vezes
as palavras vão
brotando dentro em mim
como da primeira vez
e a vida vai
e o tempo passa
em toda parte
parece igual
mas aqui parece
um pouco mais
devagar.
Cidade de Goiás, 17 de abril de 2011.
7 comentários:
Eita Gera! Rapaz, o que você sente eu sinto o avesso... ô vida corrido, sô... se não fosse minhas neuroses fúnebres eu nem veria a vida passando... Abraço, Dré
Pois é, Dré, são os caminhos que a gente vai tomando. Eu não pretendo voltar pro ritmo alucinado da cidade nunca mais...
Abração!
O tempo qualitativo do povo Nuer era do tipo: o dia dura enquanto estivermos no pasto cuidando do gado. Quando sairmos, é noite. Uma tradução moderna: a aula do professor acaba quando ele termina de falar, e não quando "dá o horário". Gera, vc me fez pensar: o tempo devagar existe. Naturalizamos a velocidade alta, sendo q "correria" não é natural, mas sim um fato social, a la Durkheim: uma forma de pensar, agir e sentir exterior ao sujeito e coercitiva. Minha bebê Letícia q nasceu ta me ajudando a sentir a vida de outra maneira. Jesus tem razão (como sempre) ao dizer pra gente prestar atenção nas crianças. Sem falar nada, elas dizem muito. Saudades Gera, bjo
Gostei da forma geral, o tom geral... só o final me pareceu obvio... mas talvez seja isso mesmo, obvio mesmo... mas gosto do ritmo que vc da pras palavras e um tom meio blasé... abracao, jeff
Pois então, Jeff, é óbvio mesmo, mas não vejo como podia ser diferente... Abração!
Tive um sentimento parecido tempos atrás. Só que no meu caso, o espaço em volta me trazia um estranho saudosismo de um tempo (que não existe) em que o ritmo da vida fazia sentido.
Poisé Geraldo... essa é a nossa vidinha do lado de cá! Uns reclamam, outros nem tanto, e alguns simplesmente se encantam! Viva Goiás!!!
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