ou Impressões sobre um show extraordinário
Ele espera o ano inteiro
espera dez anos,
vinte, trinta,
para ver o show,
fica o tempo todo
esperando a sua música preferida,
paciente, quase estóico,
até chegar o grande momento
e começa aquele timbre da guitarra
aquela linha de baixo,
então o fã, extasiado,
grita,
grita como um louco,
grita a plenos pulmões,
grita, grita, grita a música inteira
e não escuta nada.
Ele gosta muito da música
gosta das mensagens
de paz, respeito, amor,
pensa deveria haver
mais artistas assim,
o mundo seria melhor.
Veja, que mensagem bonita
diz para um amigo,
então chega o show
e ele quer ver seus ídolos
bem de pertinho
grudado na grade
quer a palheta da guitarra,
quer a baba do microfone,
quer entrar em êxtase,
e deslumbrado
empurra, pisa, chuta
pra escutar a música
que não entendeu.
O fã não consegue ver
que ali no palco
estão pessoas
como ele,
não entende
a simplicidade disso.
Ele só enxerga sua ideia
sua criação extraordinária
não vê nada nem ninguém.
O fã não vê, não escuta,
está imerso num delírio atroz
e quer engolir o ídolo,
descontrolado,
perde a humanidade
em troca de uma ideia absurda
que ele mesmo inventou
uma mentira que comprou
e acha que o fará feliz,
como se a felicidade fosse assim,
um instante, uma música,
um eu maior que o mundo.
Não resta nada,
nem mesmo a preocupação estética
da poesia.
O fã é mesmo um imbecil.
Campinas, 24 de março de 2009.
3 comentários:
hahahahahaha, fantástico!! Exatamente isso!
Perfeito...como o show extraordinário em questão.
excelente
Postar um comentário