Que bonitos são hoje
as desgraças de ontem no papel.
Com a tranquilidade de uma faca
cortando o ventre de um menino
e girando suave nas vísceras,
a tinta despeja a forma
indignada e lírica
da boa literatura.
Prêmios
sem consolação
ao escritor.
A frieza de ontem
crua, seca,
civilizada,
hoje é raiva
de impossibilidades.
A crueldade de hoje
será indignação
amanhã.
E boa literatura
e prêmios
no papel.
No papel
a vida sem vida
bonita na tristeza,
na forma e circunstância
de seu tempo.
Nos prêmios,
nos artistas laureados
os gritos dos meninos,
as mulheres estupradas pela história,
a gente comum
que sangra destroçada
nos dias de hoje,
não se escutam.
Mas estão lá
ontem, na vida,
hoje...
Silêncio,
a humanidade
é de papel.
21 de junho de 2008
Um comentário:
Artisticamente sincero. Ácido pois não hipócrita. Urge-se de poesia no estilo de Cristo, com astúcia, arte e amor a verdade.
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